ALLAN KARDEC

sábado, 15 de setembro de 2012

AS TENTAÇÕES



"Para se dar conta desses estado de coisas e compreender o que iremos dizer, é preciso se reportar a esse princípio fundamental, que entre os Espíritos os há de todos os graus em bem e em mal, em ciência e em ignorância; que os Espíritos pululam ao nosso redor, e quando cremos estar sós, estamos sem cessar cercados de seres que nos acotovelam, uns com indiferença como estranhos, os outros que nos observam com intenções mais ou menos benevolentes, segundo sua natureza.
O provérbio: Quem se parece se reúne, tem sua aplicação entre os Espíritos como entre nós e mais ainda entre eles, se isso é possível, porque não estão, como nós, sob a influência de considerações sociais. Todavia, se, entre nós, essas considerações confundem, algumas vezes, os homens de costumes a de gostos muito diferentes, essa confusão não é, de alguma sorte, senão material e transitória; a semelhança ou divergência de pensamentos será sempre a causa das atrações ou das repulsões. Nossa alma que não é, em definitivo, senão um Espírito encarnado, não é menos Espírito.
O pensamento é laço que nos une ao Espírito, e por esse pensamento atraímos aqueles que simpatizam com as nossas idéias e nossas tendências. Representemo-nos, pois, a massa dos Espíritos que nos cercam com a multidão que encontramos no mundo; por toda parte onde vamos de preferência. Por toda parte se encontram Espíritos atraídos pelo pensamento dominante. Se lançarmos um golpe de vista sobre o estado moral da Humanidade que, em geral, conceberemos sem dificuldades que, nessa multidão oculta, os Espíritos elevados não devem estar em maioria; é uma das consequências do estado de inferioridade do nosso globo.
Os Espíritos que nos cercam não são passivos; é um povo essencialmente movimentado, que pensa e age sem cessar, que nos influência com o nosso descohecimento, que nos excita ou nos dissuade, que nos impele ao bem ou ao mal, o que não nos tira mais nosso livre-arbítrio senão os conselhos bons ou maus que recebemos de nossos semelhantes. Mas quando os Espíritos imperfeitos solicitam alguém a fazer uma coisa má, sabem muito bem a quem se dirigem e não vão perder seu tempo onde vêem que serão mal recebidos, eles nos excitam segundo nossas tendências ou segundo os germes que vêem em nós e nossas disposições em escutá-los: eis porque o homem firme nos princípios do bem não lhes dá oportunidade.
Deus, nos dizem, nos vos deu o julgamento para nada; servi-vos dele, pois, para saber com quem tendes relação.
De todas as disposições morais, a que dá mais presa aos Espíritos imperfeitos é o orgulho. É quase inútil, depois disso falar de outras imperfeições morais, tais como o egoísmo, a inveja, o ciúme, a ambição, a cupidez, a dureza de coração, a ingratidão, a sensualidade, etc. Cada um compreende que elas são tantas portas abertas aos Espíritos imperfeitos, ou pelo menos causas de fraqueza. Para afastar estes últimos, é preciso lhes fechar a porta e os ouvidos, provar-lhes que se é mais forte do que eles, e, incostestávelmente, pelo amor ao bem, a caridade, a doçura, a simplicidade, a modéstia e o desinteresse, qualidades que nos conciliam com a benevolência dos bons Espíritos; é seu apoio que faz a nossa força, e se eles nos deixam, algumas vezes, presa dos maus, é uma prova para a nossa fé e o nosso caráter."
( Allan Kardec )


( Texto extraído da "Revista Espírita", Fevereiro de 1859, de Allan Kardec )

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