ALLAN KARDEC

sábado, 30 de junho de 2012

A DOR

O PROBLEMA DA DOR, POR LÉON DENIS, Filósofo Espírita



" Tudo o que vive neste mundo, natureza, animal, sofre, e todavia, o amor é a lei do Universo e por amor foi que Deus formou os seres. Contradição aparentemente horrível, problema angustioso.
A dor segue todos os nossos passos; o homem faz a eterna pergunta: Por que existe a dor?
Fundamentalmente considerada, a dor é uma lei de equilíbrio e educação. Sem dúvida, as falhas do passado recaem sobre nós com todo o seu peso e determinam as condições do nosso destino. Deve ser considerada como necessidade de ordem geral, como agente de desenvolvimento, condição de progresso.
A dor e o prazer são duas formas externas da sensação.
A dor física produz sensações, o sofrimento moral produz sentimentos.
Epicteto dizia "As coisas são apenas o que imaginemos que são." Assim, pela vontade, podemos domar, vencer a dor ou, pelo menos, fazê-la redundar em nosso proveito, fazer dela meio de elevação.A idéia que fazemos da felicidade e da desgraça, da alegria e da dor, varia ao infinito segundo a evolução individual.
Difícil fazer entender aos homens que o sofrimento é bom. Cada alma quereria refazer e embelezar a vida à sua vontade, adorná-la com todos os deleites, sem pensar que não há bem sem dor, ascensão sem suores e esforços.
Ora, os gozos, os prazeres e a ociosidade estéril não fazem mais que apertar estes limites, acanhar a nossa vida e nosso coração. Para quebrar esse círculo, para que todas as virtudes ocultas se expandam à luz, é necessaria a dor. A desgraça e as provações fazem jorrar em nós as fontes de uma vida desconhecida e mais bela. É na dor que mais sobressaem os cânticos da alma.
Suprimi a dor e suprimireis, ao mesmo tempo, o que é mais digno de admiração neste mundo, isto é, a coragem de suportá-la.
O mais nobre ensinamento que se pode apresentar aos homens não é a memória daqueles que sofreram e morreram pela Verdade e pela Justiça? Nada iguala o poder moral que daí provém.
Pela dedicação, pelo sofrimento diginamente suportados que se sobem os caminhos do Céu. Sem ela, não pode haver virtude completa, nem glória imperecível.
É necessário sofrer para adquirir e conquistar. Aqueles que não sofreram, mal podem compreender estas coisas, porque, neles, só a superfície do ser está arroteada, valorizada. A vida dolorosa é um alambique onde se destilam os seres para mundos melhores.
A dor não fere somente os culpados. Em nosso mundo o homem honrrado sofre tanto como o mau, o que é explicável. Em primeiro lugar a alama virtuosa é mais sensível por ser mais adiantada o seu grau de evolução; depois, estima muitas vezes e procura a dor, por lhe conhecer todo o valor.
Admiramos o Cristo, Sócrates, Antígono, Joana D'Arc; mas quantas vítimas obscuras do dever ou do amor caem todos os dias e ficam supultadas no silêncio e no esquecimento!
Tal existência, aparentemente apagada e triste, indistinta e despercebida, é, na realidade, um esforço contínuo, uma luta de todos os instantes contra a desgraça e o sofrimento. Muitas, por pudor, escondem chagas dolorosas, mals cruéis. Fá-las também grandes e heróicas, a essas almas, o combate ininterrupto que pelejam contra o destino! Seus triunfos ficam ignorados, mas todos os tesouros de energia, de paixão generosa, de paciência ou amor, que elas acumulam nesse esforço de cada dia, con stiuir-lhes-ão um capital de força, de beleza moral que pode, no Além, fazê-las iguais às mais nobres figuras da História.
A dor física é em geral um aviso da natureza, que procura preservar-nos dos excessos. Sem ela, abusaríamos de nossos órgãos até o ponto de os destruirmos antes do tempo. É necessário sofrer para nos conhecermos e conhecermos bem a vida.
Epícteto dizia também:" Falso dizer-se que a saúde é um bem e a doença um mal. Usar bem da saúde é um bem; usar mal é um mal. De tudo se tira o bem, até da própria morte."
O sofrimento, por sua ação química, tem sempre um resultado útil, mas esse resultado varia infinitamente segundo os individuos e seu estado de adiantamento. A dor é como uma asa dada à alma escravizada pela carne para ajudá-la a desprender-se e a elevar-se mais alto.
O primeiro movimento do homem infeliz é revoltar-se sob os golpes da sorte. Se, nas horas da provação, soubéssemos observar o trabalho interno, a razão misteriosa da dor em nós, em nosso "eu", em nossa consciência, compreenderíamos melhor sua obra sublime de educação e aperfeiçoamento. Veríamos que ela fere sempre a corda sensível.
Por mais admirável que possa parecer à primeira vista, a dor é apenas um meio de que usa o Poder Infinito para nos chamar a si e, ao mesmo tempo, tornar-nos mais rapidamente acessíveis à felicidade espiritual, única duradoura.
É, pois, realmente, pelo amor que Deus envia o sofrimento. Gozos e sofrimentos, prazeres e dores, tudo isto Deus distribui na existência como um grande artista que, na tela, combina a sombra e a luz para produzir uma obra-prima.
É principalmente na consciência, bem o sabemos, que está a sanção do bem e do mal.
Ela registra minuciosamente todos os nossos atos, mais cedo ou mais tarde, erigi-se em juiz severo para o culpado que acaba sempre por lhe ouvir a voz e sofrer as sentenças.
Com a diferença de plano, o sofrimento mudará de aspecto. Na Terra será simultaneamente físico e moral e constituirá um modo de reparação.
Não é, pois, por vingança que a Lei nos pune, mas porque é bom e proveitoso sofrer, pois que o sofrimento nos liberta, dando satisfação à consciência, cujo veredicto ela executa.
Tudo se resgata e repara pela dor.
A dor será necessária enquanto o homem não tiver posto o seu pensamento e os seus atos de acordo coma s leis eternas; deixará de se fazer sentir logo que se fizer a harmonia. A dor desaparece com as causas que a fizeram nascer.
Somente daí em diante a dor verá seu império restringir-se, desaparecerá com as causas que a produzem, graças a uma educação mais elevada, à realização em nós da beleza moral, da justiça e do amor.
O mal moral existe na alma somente em suas dissonâncias com a harmonia divina. Mas, à medida que ela sobe, as causas do sofrimento, vão-se atenuando. E de estância em estância, de vida em vida, ela penetra na grande luz e na grande paz onde o mal é desconhecido e onde só reina o bem!"



( Texto extraído do livro" O Problema do Ser, do Destino e da Dor", de Léon Denis, editora da FEB )
 

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