ALLAN KARDEC

sábado, 21 de julho de 2012

A FATALIDADE

SEGUNDO "O LIVRO DOS ESPÍRITOS", LIVRO TERCEIRO, CAPÍTULO X, ITEM VI, DE ALLAN KARDEC


851. Há uma fatalidade nos acontecimentos da vida, segundo o sentimento ligado a essa palavra; quer dizer, todos os acontecimentos são predeterminados, e nesse caso em que se torna o livre-abrítrio?
- A fatalidade só existe no tocante à escolha feita pelo Espírito, ao se encarnar, de sofrer esta ou aquela prova; ao escolhê-la ele traça para si mesmo uma espécie de destino, que é a própria consequência da posição em que se encontra. Falo das provas de natureza física, porque, no tocante às provas morais e às tentações, o Espírito, conservando o seu livre-arbítrio sobre o bem e o mal, é sempre senhor de ceder ou resistir. Um bom Espírito, ao vê-lo fraquejar, pode correr em seu auxílio mas não pode influir sobre ele a ponto de subjugar-lhe a vontade. Um Espírito mau, ou seja, inferior, ao lhe mostrar ou exagerar um perigo físico, pode abalá-lo ou assustá-lo, mas a vontade do Espírito encarnado não fica por isso menos livre de qualquer entrave.
852. Há pessoas que parecem perseguidas por uma fatalidade, independemente de sua maneira de agir; a desgraça está no seu destino?
- São talvez, provas que devem sofrer  e que elas mesmas escolheram. Ainda uma vez levais à conta do destino o que é quase sempre a consequência de sua própria falta. Em meio dos males que te afligem, cuida que a tua consciência esteja pura e te sentirás meio consolado.
As idéias justas ou falsas que fazemos das coisas nos fazem vencer ou fracassar, segundo o nosso caráter e a nossa posição social. Achamos mais simples e menos humilhante para o nosso amor-próprio atribuir os nossos fracassos à sorte ou ao destino, do que a nós mesmos. Se a influência dos Espíritos contribui algumas vezes para isso, podemos sempre nos subtrair a ela, repelindo as idéias más que nos forem sugeridas.
853. Certas pessoas escapam a um perigo mortal para cair em outro; parecem que não podem escapar à morte. Não há nisso fatalidade?
- Fatal, no verdadeiro sentido da palavra, só o instante da morte. Chegando esse momento, de uma forma ou de outra, a ele não podeis furtar-vos.
853-a. Assim, qualquer que seja o período que nos ameace, não morreremos se a nossa hora não chegou?
- Não, não morrerás, e tens disso milhares de exemplos. Mas quando chegar a tua hora de partir, nada te livrará. Deus sabe com antecedência qual o gênero de morte porque partirás daqui, e frequentemente teu Espírito também o sabe, pois isso lhe foi revelado quando fez a escolha desta ou daquela existência.
856. O Espírito sabe, por antecipação, qual o gênero de morte que irá sofrer?
- Sabe que o gênero de vida por ele escolhido o expõe a morrer mais de uma maneira que de outra. Mas sabe também quais as lutas que terá de sustentar para o evitar, e que, se Deus o permitir, não sucumbirá.
858. Os que pressentem a morte geralmente a temem menos do que os outros. Por quê?
- É o homem que teme a morte, não o Espírito. Aquele que a pressente pensa mais como Espírito do que como homem: compreende a sua libertação e a espera.
859. Se a morte não pode ser evitada quando chega a sua hora, acontece o mesmo com todos os acidentes no curso da vida?
- São, em geral, coisas demasiado pequenas, das quais podemos prevenir-vos dirigindo o  vosso pensamento no sentido de as evitardes, poque não gostamos do sofrimento material. Mas isso é de pouca importância para o curso da vida que escolhestes. A fatalidade na  verdade só consiste nestas duas horas: a em que deveis aparecer e desaparecer deste mundo.
859-a. Há fatos que devem ocorrer forçosamente e que a vontade dos Espíritos não pode conjurar?
- Sim, mas que tu, quando no estado de Espírito, viste e pressentiste, ao fazer a tua escolha. Não acrediteis, porém, que tudo o que acontece esteja escrito como se diz. Um acontecimento é quase sempre a consequência de uma coisa que fizeste por um ato de sua livre vontade, de tal maneira que, se não tivésseis praticado aquele ato, o acontecimento não se verificaria. Se queimas o dedo, isso é apenas a consequência de tua imprudência e da condição da matéria. Somente as grandes dores, os acontecimentos importantes e capazes de influir na tua evolução moral são previstos por Deus, porque são úteis à tua purificação e à tua instrução.
862. Há pessoas que nunca conseguem êxito e que um mau gêncio para perseguir, em todos os seus empreendimentos. Não é isso o que podemos chamar fatalidade?
- Pode ser fatalidade se assim o quiseres, mas decorrente da escolha do gênero de existência, porque essas pessoas quiseram ser experimentadas por uma vida de decepções a fim de exercitarem a sua paciência e a sua resignação. Não creais, entretanto, que seja isso o que fatalmente acontece; muitas vezes é apenas o resultado de haverem elas tomado um caminho errado, que não está de acordo com a sua inteligência e as suas aptidões. Aquele que quer atravessar um rio a nado, sem saber nadar, tem grande probalidade de morrer afogado. Assim acontece na maioria das ocorrências da vida. Se o homem não empreendesse mais do aquilo que está de acordo com as suas falculdades, triunfaria quase sempre; o que o perde é o seu  amor-próprio e sua ambição, que o desviam do caminho para tomar por vocação o simples desejo de satisfazer certas paixões. Então fracassa e a culpa é sua, mas em vez de reconhecer o erro prefere acusar a sua estrela. Há o que teria sido um bom operário, ganhando honradamente a vida, mas se fez mau poeta e morre de fome. Haveria lugar para todos, se cada um soubesse ocupar o seu lugar.
864. Se há pessoas para as quais a sorte é contrária, outras parecem favorecidas por ela, pois tudo lhe sai bem; a que se deve isso?
- Em geral, porque sabem orientar-se melhor. Mas isso pode ser tabmém, um gênero de prova: o sucesso as embriaga, elas se fiam no seu destino e frequentemente vão pagar mais tarde esse sucesso com reveses cruéis, que poderiam ter evitado, com um pouco de prudência.
865. Como explicar a sorte que favorece certas pessoas em circuntâncias que não dependem da vontade nem da inteligência, como no jogo, por exemplo?
- Certos Espíritos escolheram antecipamente determinadas espécies de prazer, e a sorte que os favorece é uma tentação. Aquele que ganha como homem perde como Espírito: é uma prova para o seu orgulho e a sua cupidez.
866. Então, a fatalidade que parece presidir aos destinos do homem na vida material seria também resultado do nosso livre-arbítrio?
- Tu mesmo escolheste a tua prova; quanto mais rude ela for, se melhor a suportas, mais te elevas. Os que passam a vida na abundância e no bem-estar são Espíritos covardes que permanecem estacionários. Assim o número dos infortunados sobrepassa de muito o dos felizes do mundo, visto que os Espíritos procuram na sua maioria, as provas que lhes sejam mais frutuosas. Eles vêem muito bem a futilidade de vossas grandezas e dos v ossos prazeres. Aliás, a vida mais feliz é sempre agitada, sempre perturbada: não seria assim pela ausência da dor.
867. De onde vem a expressão: nascido sob uma boa estrela?
- Velha supertição, segundo a qual as estrelas estariam ligadas ao destino de cada homem; alegoria que certas pessoas fazem a tolice de tomar ao pé da letra.

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