ALLAN KARDEC

quarta-feira, 18 de julho de 2012

AS PENAS E GOZOS DA ALMA APÓS A MORTE

CONFORME "O LIVRO DOS ESPÍRITOS", LIVRO QUARTO, CAPÍTULO II, ITEM IV, DE ALLAN KARDEC


965. As penas e os gozos da alma após a morte têm alguma coisa de material?
- Não podem ser materiais, desde que a alma não é de matéria. O próprio bom senso o diz. Essas penas e esses gozos nada têm de carnal e por isso mesmo são mil vezes mais vivos do que os da Terra. O Espírito, uma vez desprendido, é mais impressionável: a matéria não mais lhe enfraquece as sensações.
967. Em que consiste a felicidade dos bons Espíritos?
- Em conhecer todas as coisas; não ter ódio, nem ciúme, nem inveja, nem ambição, nem qualquer das paixões que fazem a infelicidade dos homens. O amor que os une é para eles a fonte de uma suprema felicidade. Não experimentam nem as necessidades, nem os sofrimentos, nem as angústias da vida material. São felizes com o bem que fazem. De resto, a felicidade dos Espíritos é sempre proporcional à sua elevação. Somente os Espíritos puros gozam, na verdade, da felicidade suprema, mas nem por isso os demais são infelizes. Entre os maus e os perfeitos há uma infinidade de graus, nos quais os gozos são relativos ao estado moral. Os qaue são bastante adiantados compreendem a felicidade dos que avançaram mais que eles, e a ela aspiram, mas isso é para eles motivo de emulação e não de inveja. Sabem que deles depende alcançá-la e trabalham com esse fito, mas com a calma da consciência pura. Sentem-se felizes de não ter de sofrer o que sofrem os maus.
970. Em que consistem os sofrimentos dos Espíritos inferiores?
- São tão variados quanto as causas que os produzem e proporcionais ao grau de inferioridade, como os gozos são proporcionais ao grau de superioridade. Podemos resumi-los assim: cobiçar tudo o que lhes falta para serem felizes, mas não poderem obtê-lo; ver a felicidade e não poder atingi-la; mágoa, ciúme, raiva, desespero, decorrentes de tudo o que os impede de ser felizes, remorsos e uma ansiedade moral indefinível. Desejam todos os gozos e não podem satisfazê-los. É isso o que os tortura.
973. Quais são os maiores sofrimentos que os maus Espíritos podem suportar?
- Não há descrição possível das torturas morais que constituem a punição de certos crimes. Os próprios Espíritos que as sofrem teriam dificuldades em vos dar uma idéia. Mas seguramente a mais horrível é o pensamento de serem condenados para sempre.
O homem tem das penas e dos gozos da alma após a morte uma idéia mais o menos elevada, segundo o estado de sua inteligência. Quanto mais ele se desenvolve, mais essa idéia se depura e se desprende da matéria; compreende as coisas de maneira mais racional e deixa de tomar ao pé da letra as imagens de uma linguagem figurada. A razão mais esclarecidea nos ensina que a alma é um ser inteiramente espiritual e por isso mesmo não pode ser afetado pelas impressões que não agem fora da matéria. Mas disso não se segue que esteja livre de sofrimentos, nem que não seja punido pelas suas faltas.
As comunicações espíritas têm por fim mostrar-nos o estado futuro da alma, não mais como uma teoria mas como uma realidade. Colocam sob nosso olhos as vicissitudes da vida do além-túmulo, mas ao mesmo tempo no-las apresentam como consequências perfeitamente lógicas da vida terrena. E embora destituídas do aparato fantástico criado pela imaginação dos homens, nem por isso são menos penosas para os que fizeram mau uso de suas faculdades. A diversidade dessas consequências é infinita, mas pode dizer-se de maneira geral: cada um é punido naquilo em que pecou. Assim é que uns o são pela incessante visão do mal que fizeram, outros pelos remorsos, pelo medo, pela vergonha, a dúvida, o isolamento, as trevas, a separação dos seres que lhes são caros etc.
977. Os Espíritos não podem ocultar-se reciprocamente os pensamentos e todos os atos da vida sendo conhecidos, segue-se que o culpado está sempre na presença da vítima?
- Isso não pode de ser de outra maneira, diz o bom senso.
977-a. Essa revelação do todos os atos repreensíveis e a presença constante das vítimas serão um castigo para o culpado?
- Maior do que se pensa, mas somente até que ele tenha expiado as suas culpas, seja como Espírito, seja como homem em novas existências copóreas.
Quando estivermos no mundo dos Espíritos, todo o nosso passado estando descoberto, o bem e o mal que tivermos feito serão igualmente conhecidos. Em vão aquele que fez o mal tentará escapar à visão de suas vítimas: sua presença invetável será para ele um castigo e um remorso incessante, até que tenha expiado os seus erros. O homem de bem pelo contrário, só encontrará por toda parte olhares amigos e benevolentes.
Para o mau, não há maior tormento na Terra que a presença de suas vítimas. É por isso que ele sempre as evita. Que será dele quando dissipada a ilusão das paixões, compreender o mal que praticou, vendo os seus atos mais secretos revelados, sua hipocrisia desmascarada, e sem poder subtrair-se à sua vista? Enquanto a alma do homem perverso é presa da vergonha, do pesar e do remorso, a do justo goza de perfeita serenidade.
981. Há diferença para o estado futuro do Espírito, entre aquele que temia a morte e aquele que a via com indiferença e até mesmo com alegria?
- A diferença pode ser grande; entretanto, ela em geral se apaga ante as causas que produzem esse medo ou esse desejo. Quem a teme ou quem a deseje pode ser impulsionado por sentimentos muito diversos, e são esses sentimentos que vão influir no estado futuro do espírito. É evidente, por exemplo, que aquele que deseja a morte unicamente por ver na mesma o fim das tribulações, de certa maneira se queixa das provas qaue deve sofrer.
982. É necessário fazer profissão de fé no Espiritismo e crer nas manifestações para assegurar nossa sorte na vida futura?
- Se assim fosse todos os que não crêem ou não puderam esclarecer-se seriam deserdados, o que é absurdo. É o bem que assegura a sorte no futuro; ora, o bem é sempre o bem, qualquer que seja a via pela qual se conduz.
A crença no Espiritismo ajuda o homem a se melhorar ao lhe fixar as idéias sobre determinados pontos do futuro; ela apressa o adiantamento dos indivíduos e das massas porque permite consderarmos o que seremos um dia: é, pois, um ponto de apoio, uma luz que nos guia. O Espiritismo ensina a suportar as provas com paciência e resignação, desvia o homem da prática do atos que podem retardar-lhe a felicidade futura, e é assim que contribui para a sua felicidade. Mas nunca se disse que sem ele não se possa atingi-la.

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